Na Geórgia, o descontentamento dos homens afro-americanos é um problema para Kamala
Em menos de duas semanas, Preston Paris votará pela primeira vez em uma eleição presidencial nos Estados Unidos. Sua família apoia os democratas, como grande parte da comunidade afro-americana do país, mas o estudante de Atlanta (Geórgia) discorda: ele votará no candidato republicano Donald Trump.
“Muitas pessoas olham para mim como se eu fosse louco quando digo isso. Sou negro e muitas pessoas presumem que votarei automaticamente na (democrata) Kamala Harris”, afirma o jovem de 19 anos. “Mas eu confio em Trump. Prefiro sua política externa e seu plano para a economia.”
A Geórgia, no sudeste dos Estados Unidos, será um dos locais decisivos nas eleições de 5 de novembro. O presidente democrata Joe Biden venceu Trump por apenas 11.779 votos em 2020 nesse estado, onde os afro-americanos agora representam quase um terço das pessoas aptas a votar.
É por isso que algumas pesquisas recentes fizeram soar o alarme para a campanha de Kamala.
De acordo com uma pesquisa do Atlanta Journal-Constitution desta semana, a democrata tem 73,8% de apoio entre os afro-americanos na Geórgia, contra 7,6% para Trump. Um resultado muito abaixo dos 88% de apoio de Biden entre os afro-americanos há quatro anos.
Uma pesquisa nacional do New York Times/Siena College realizada este mês sugeriu que a maior perda de apoio aconteceu entre os homens afro-americanos. A sondagem mostra que 70% dos homens afro-americanos decidiram votar em Kamala, contra 83% das mulheres negras.
- Um voto disputado –
Após a divulgação das pesquisas, Kamala anunciou uma “agenda de oportunidades para homens negros”, incluindo, entre outras coisas, empréstimos para abertura de empresas e treinamento profissional.
Sua campanha também mobilizou o ex-presidente Barack Obama, que se juntou a ela em um comício perto de Atlanta na quinta-feira (24) com o cantor Bruce Springsteen.
Os republicanos, por sua vez, estão tentando capitalizar a decepção de parte desse eleitorado com os democratas.
Em uma manhã de outubro, dezenas de pessoas participaram de um comício do ativista conservador Charlie Kirk e do empresário Vivek Ramaswamy, ex-candidato republicano à presidência, em um parque no centro de Atlanta.
Alguns não querem apoiar Trump, mas ouvem com curiosidade os argumentos dos republicanos. Outros, como Preston Paris, estão entusiasmados com o ex-presidente.
“Ele planeja reduzir os impostos, não as gorjetas de impostos, reduzir os impostos sobre as grandes empresas, o que pode beneficiar pessoas como eu”, diz o estudante de Ciência da Computação que sonha em trabalhar no Google.
Durante seu mandato (2017-2021), “não houve nenhum novo conflito no exterior”, acrescenta. “Não quero ser convocado tão cedo ou nunca".
Perto dele, JP, um estudante de 23 anos, usa orgulhosamente um boné vermelho com o slogan de Trump: “Make America Great Again”.
Esse jovem afro-americano, que não quer revelar seu nome, considera a próxima eleição “uma questão de vida ou morte”. A economia estava indo muito melhor quando Trump era presidente, diz ele, mas seu apoio tem mais a ver com sua fé cristã.
Assim como ele, o eleitorado mais religioso agradece ao bilionário republicano por ter nomeado vários juízes conservadores da Suprema Corte que derrubaram o direito federal ao aborto em 2022.
“Trump é o que está mais alinhado com a Bíblia, com minhas crenças”, resume JP.
- "Ignorados" –
Em uma pizzaria de Atlanta, Marc Boyd, um ex-militar afro-americano de 45 anos, quer que a eleição passe rapidamente.
Ele votou em Obama em 2008, mas, após anos de desilusão com a política, desta vez não planeja apoiar nenhum candidato.
“Há uma decepção de longa data com o Partido Democrata (...) Nos sentimos ignorados e eles esperam nossos votos sem muito em troca”, diz Boyd, cofundador de uma ONG de capacitação de jovens.
“Se você observar questões como gentrificação ou guetos, a situação é a mesma sob um governo democrata ou republicano”, acrescenta.
Para Jarrod Grant, professor de Ciências Políticas da Clark Atlanta University, os afro-americanos não estão mais dispostos a apoiar cegamente um partido como faziam antes.
Agora eles perguntam "o que você vai fazer pelos negros”, explica ele. “Nós, negros (...), temos ajudado todo mundo, menos a nós mesmos. E todo mundo recebe alguma coisa, mas os negros não”.
Y.I.Hashem--DT