Azerbaijão acusa Rússia de tentar esconder causas de acidente aéreo
O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, afirmou neste domingo (29) que o avião da Azerbaijan Airlines que caiu na última quarta-feira no Cazaquistão foi atingido por "disparos" provenientes do território russo e acusou Moscou de querer esconder as causas da tragédia.
Desde o dia do acidente, quando o avião caiu após não conseguir pousar em Grozny, no sul da Rússia, aumentaram as suspeitas de que um disparo da força antiaérea russa tenha atingido a aeronave.
Segundo um comunicado do Kremlin, o presidente russo, Vladimir Putin, se desculpou no sábado com Ilham Aliyev pelo "trágico acidente", que deixou 38 mortos.
No entanto, Putin não mencionou a possibilidade de que o sistema de defesa antiaérea russo tenha atingido a aeronave, uma hipótese apontada por especialistas dos Estados Unidos e de outros países ocidentais. O presidente russo também afirmou que a região estava sob ataque de drones ucranianos.
De acordo com Aliyev, o avião, um Embraer 190 de fabricação brasileira, foi "danificado externamente em território russo, perto da cidade de Grozny", capital da Chechênia, para onde se dirigia, vindo de Baku.
O avião "quase perdeu o controle" devido a sistemas "militares de interferência eletrônica", explicou Aliyev em uma entrevista na televisão.
O presidente azerbaijano apontou a "culpa" da Rússia, embora insistisse que "o avião foi atingido acidentalmente".
Os depoimentos dos 29 sobreviventes do incidente e as imagens da cauda do avião, cheia de perfurações, apoiam a hipótese de um disparo da defesa antiaérea russa.
Aliyev, cujo país mantém boas relações com Moscou, lamentou que as autoridades e a mídia russas tenham apresentado várias versões, como a de que o acidente foi causado por uma revoada de pássaros ou pela explosão de um cilindro de gás a bordo, para tentar "abafar o assunto".
"Infelizmente, durante os três primeiros dias após o acidente, não ouvimos nada além de teorias absurdas da parte da Rússia", disse.
- Desculpas e indenizações -
Segundo Aliyev, a Rússia deve se desculpar, admitir sua responsabilidade, punir os culpados e indenizar o Azerbaijão e as vítimas do incidente.
"Admitir [sua] culpa, se desculpar a tempo com o Azerbaijão, que é considerado um país amigo, e informar o público a respeito são todas medidas e passos que deveriam ter sido dados", acrescentou, ressaltando que uma dessas ações, as desculpas, já foram feitas "no sábado".
De acordo com a Rússia, Grozny foi alvo de ataques de drones ucranianos no dia do acidente. Além disso, a cidade estava envolta em uma espessa neblina, que impedia qualquer visibilidade acima de 500 metros de altitude.
Moscou afirma que foi o comandante a bordo quem, após tentar pousar duas vezes em Grozny, sem sucesso, decidiu aterrissar no aeroporto de Aktau, no Cazaquistão, do outro lado do Mar Cáspio, onde acabou caindo.
- Investigação "objetiva" -
"Assim que as gravações de voo forem examinadas e informações mais detalhadas forem obtidas, será publicada uma informação completa sobre o que ocorreu", prometeu Ilham Aliyev.
Segundo as agências de notícias russas, Aliyev e Putin conversaram novamente neste domingo.
Na sexta-feira, a Casa Branca afirmou que tinha "indícios preliminares que apontam para a possibilidade de que o avião tenha sido atingido por sistemas de defesa antiaérea russos".
A União Europeia pediu uma investigação "rápida e independente".
De acordo com as autoridades cazaques, 17 especialistas de várias nacionalidades estão participando da investigação, incluindo dois russos e vários brasileiros. A Organização de Aviação Civil Internacional (OACI) também participará das investigações.
Em decorrência do incidente, várias companhias aéreas, como a emiradense Flydubai, a cazaque Qazaq Air e a israelense El Al, anunciaram a suspensão de voos para a Rússia.
W.Darwish--DT