Macron chega à Nova Caledônia, abalada por protestos
O presidente da França, Emmanuel Macron, chegou na manhã desta quinta-feira (23, noite de quarta em Brasília) ao território da Nova Caledônia, para promover um retorno "à paz" após nove dias de distúrbios que deixaram seis mortos e centenas de feridos neste arquipélago do Pacífico.
Quase um ano depois de sua última viagem ao território, em julho de 2023, o dirigente francês aterrissou por volta das 8h20 locais (18h20 da quarta-feira em Brasília) na capital Nouméa.
A repentina decisão de Macron de viajar a este arquipélago francês situado a cerca de 17.000 quilômetros de distância mostra a seriedade com que o governo francês vê a crise no território colonizado pela França em meados do século XIX.
"Minha vontade [...] é estar ao lado da população para que o retorno à paz, à calma e à segurança aconteça o mais breve possível", disse Macron assim que pousou em Nouméa. O presidente também destacou que não foi estabelecido um limite de tempo para sua visita.
Uma reforma do censo eleitoral na Nova Caledônia, que o governo espera ser aprovada pelo Parlamento francês até ao final de junho, reacendeu as tensões entre o povo indígena kanak, sobretudo pró-independência, e os habitantes leais à França.
O país europeu também expressou preocupação com a interferência estrangeira na crise — acusando o Azerbaijão de provocar problemas — e o governo da Nova Caledônia declarou que impediu um ciberataque "sem precedentes" contra um provedor de internet local.
Durante a visita, Macron planeja "ouvir, conversar e manter diálogos" com políticos e autoridades do arquipélago na tentativa de restaurar a ordem, disse à AFP em Paris um conselheiro presidencial sob anonimato.
Também está previsto que o dirigente estabeleça uma missão composta por três altos funcionários, que permanecerá no local "o tempo que for necessário" e "terá como objetivo propiciar o diálogo político", declarou na quarta-feira o primeiro-ministro francês Gabriel Attal perante o Senado.
- 'Mentiram aos nossos antepassados' -
Os distúrbios, os mais graves já registrados na Nova Caledônia desde os anos 1980, foram provocados pelo plano do governo francês de ampliar o direito de voto nas eleições provinciais às pessoas que vivem no território há pelo menos 10 anos.
Muitos kanaks, que representam cerca de 40% da população, temem que esta reforma dilua sua influência nas instituições do arquipélago, mas os residentes que se opõem à independência querem que ela seja aprovada.
"A situação é terrivelmente triste e perigosa", disse o ex-primeiro-ministro francês Edouard Philippe, para quem a França "tem a oportunidade de encontrar uma solução original" para a "complicada relação com sua história colonial".
As autoridades francesas enviaram mais de mil soldados, bem como reforços policiais de Paris para tentar reprimir a violência, mas os motins continuam, embora tenham perdido intensidade.
Este popular destino de viagem está agora repleto de centenas de veículos, negócios e escolas incendiadas. Dois colégios e 300 carros de uma concessionária foram queimados em Nouméa na última noite, indicou à AFP a prefeitura.
A polícia prendeu quase 300 pessoas nos distúrbios que assolam este território de 270.000 habitantes, segundo o procurador de Nouméa, Yves Dupas.
Os separatistas kanak, alguns usando máscara, continuam bloqueando as estradas de maneira improvisada, inclusive a principal via de acesso ao aeroporto internacional, constataram jornalistas da AFP.
"Mentiram aos nossos antepassados, mentiram aos nossos anciões com os diferentes acordos que foram assinados [...] Estamos cansados de não sermos reconhecidos", declarou Yamel, um defensor da independência do arquipélago.
A voz dos kanak "não se escuta, não se ouve", afirmou, por sua vez, Mike, de 52 anos, em uma barricada improvisada ao norte da capital.
Os turistas que estavam bloqueados no arquipélago já começaram a sair. Austrália e Nova Zelândia enviaram na terça-feira um primeiro comboio de aviões militares ao pequeno aeroporto caledônio de Magenta para repatriar "cerca de 100 pessoas", segundo as autoridades francesas locais.
"Quando aterrissamos, foi como: 'Graças a Deus, já estamos aqui!'", disse Mary Hatten, que passou uma semana refugiada em um hotel de Nouméa, ao chegar à cidade australiana de Brisbane.
Estão previstos mais voos até que o principal aeroporto internacional de Nova Caledônia reabra suas pistas aos aviões comerciais, o que o operador espera que aconteça no sábado pela manhã.
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I.Viswanathan--DT