Dubai Telegraph - A luta dos 'guerreiros da floresta' em defesa do Vale do Javari, na Amazônia

EUR -
AED 3.84909
AFN 70.983076
ALL 98.168084
AMD 408.033489
ANG 1.877746
AOA 956.772304
ARS 1045.934567
AUD 1.608014
AWG 1.888917
AZN 1.780997
BAM 1.956142
BBD 2.103608
BDT 124.501747
BGN 1.96788
BHD 0.392672
BIF 3077.56693
BMD 1.047943
BND 1.404259
BOB 7.239401
BRL 6.098928
BSD 1.041892
BTN 88.430422
BWP 14.233758
BYN 3.409661
BYR 20539.683689
BZD 2.100107
CAD 1.461529
CDF 3008.644792
CHF 0.933707
CLF 0.036935
CLP 1019.137039
CNY 7.592031
CNH 7.595984
COP 4600.207983
CRC 530.697762
CUC 1.047943
CUP 27.770491
CVE 110.899218
CZK 25.334232
DJF 185.535949
DKK 7.457456
DOP 62.791567
DZD 139.877767
EGP 51.749446
ERN 15.719146
ETB 127.546696
FJD 2.385066
FKP 0.827159
GBP 0.83215
GEL 2.871065
GGP 0.827159
GHS 16.552662
GIP 0.827159
GMD 74.404001
GNF 8980.654359
GTQ 8.08725
GYD 219.183481
HKD 8.154967
HNL 26.32885
HRK 7.475249
HTG 136.765194
HUF 411.595345
IDR 16624.306486
ILS 3.879155
IMP 0.827159
INR 88.307488
IQD 1364.864451
IRR 44092.203499
ISK 146.344923
JEP 0.827159
JMD 165.980576
JOD 0.743093
JPY 161.794551
KES 135.676997
KGS 90.649326
KHR 4194.772734
KMF 495.143365
KPW 943.148344
KRW 1467.769713
KWD 0.322609
KYD 0.868268
KZT 520.220796
LAK 22885.434193
LBP 93300.07746
LKR 303.238754
LRD 189.101446
LSL 18.801143
LTL 3.094303
LVL 0.63389
LYD 5.087986
MAD 10.539574
MDL 19.003682
MGA 4862.942225
MKD 61.540749
MMK 3403.678134
MNT 3560.910412
MOP 8.353519
MRU 41.455637
MUR 49.074871
MVR 16.201526
MWK 1806.650049
MXN 21.359806
MYR 4.668554
MZN 66.973635
NAD 18.801143
NGN 1769.410365
NIO 38.337062
NOK 11.559514
NPR 140.70592
NZD 1.790636
OMR 0.401068
PAB 1.047692
PEN 3.95069
PGK 4.194773
PHP 61.7584
PKR 289.326398
PLN 4.334357
PYG 8133.57593
QAR 3.820851
RON 4.978251
RSD 117.724856
RUB 108.694151
RWF 1422.262
SAR 3.934395
SBD 8.785488
SCR 14.270629
SDG 630.340687
SEK 11.508746
SGD 1.410154
SHP 0.827159
SLE 23.819809
SLL 21974.846653
SOS 595.409683
SRD 37.195668
STD 21690.30525
SVC 9.116766
SYP 2632.988191
SZL 18.794642
THB 36.22582
TJS 11.157609
TMT 3.667801
TND 3.328435
TOP 2.454385
TRY 36.218374
TTD 7.076236
TWD 34.002924
TZS 2777.049042
UAH 43.103352
UGX 3871.138521
USD 1.047943
UYU 44.554803
UZS 13366.334712
VES 48.817231
VND 26630.85264
VUV 124.413904
WST 2.925428
XAF 656.077858
XAG 0.034259
XAU 0.000393
XCD 2.832119
XDR 0.792554
XOF 656.077858
XPF 119.331742
YER 261.90718
ZAR 18.9268
ZMK 9432.745885
ZMW 28.781577
ZWL 337.437233
A luta dos 'guerreiros da floresta' em defesa do Vale do Javari, na Amazônia
A luta dos 'guerreiros da floresta' em defesa do Vale do Javari, na Amazônia / foto: Siegfried - AFP

A luta dos 'guerreiros da floresta' em defesa do Vale do Javari, na Amazônia

"As invasões continuam, nada mudou"... Na opinião de todos na terra indígena do Vale do Javari, pescadores e caçadores ilegais, desmatadores e narcotraficantes mantêm suas atividades de roubo e contrabando de todo tipo nestes confins da Amazônia, no noroeste do Brasil.

Tamanho do texto:

Um ano após o assassinato brutal, nesta região, do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, algo, no entanto, está em vias de mudar do lado dos povos originários. Uma nova geração de ativistas, "herdeiros" de Bruno, assumiu seu lugar ao defender o Javari dos invasores.

Na comunidade de São Luís, às margens do rio Javari, na fronteira com o Peru, são cerca de trinta a bordo de uma piroga motorizada, armados com lanças, arcos e flechas, e vestidos com camisetas cáqui estampadas com a inscrição "guerreiros da floresta".

Estes membros da "vigilância territorial" são todos kanamari, uma das seis etnias do Javari, a segunda maior terra indígena do Brasil. É aqui, nesta floresta impenetrável com área do tamanho de Portugal, que fica a maior concentração de indígenas ainda não contactados. A entrada é interditada a qualquer forasteiro.

- No oeste longínquo -

O território dos kanamari tem como particularidade sua localização, no limite norte do Javari. Nas margens do rio de mesmo nome, em um emaranhado de lagoas e represas, situa-se nos postos avançados das invasões, em particular das incursões de pescadores clandestinos em busca do emblemático pirarucu, um dos maiores peixes de água doce do mundo. Sua carne, rica em gorduras, é apreciada pelos amantes da culinária e é vendida a preços excelentes por baixo dos panos.

"Por precaução, nós fazemos patrulhas com nossas armas tradicionais", explica Lucinho Kanamari, chefe destes guardiões voluntários. "Quando percebemos os intrusos, um de nós vai falar com eles. Os demais ficam, prudentemente, afastados, prontos para reagir se algo der errado".

Pescadores, suspeitos de terem vínculos com traficantes de drogas, são julgados pelos assassinatos, em 5 de junho de 2022, de "Bruno e Dom", como são chamados aqui, de uma forma íntima. O crime chamou atenção internacional momentânea para este recanto afastado do planeta, no oeste longínquo onde se joga parte do futuro da imensa floresta amazônica.

"É preciso sempre estar preparado para o pior. Mas nós não queremos violência. Estamos lá de forma pedagógica, para uma dissuasão pacífica. Falamos, explicamos a eles", relata Lucinho, o rosto pintado com uma faixa vermelha.

"Frequentemente, eles tentam nos comprar com combustível, arroz, açúcar... Devemos manter contato com eles para saber o que estão tramando", acrescenta.

Dois postos de vigilância - casinhas de madeira construídas sobre flutuantes cercadas por mosquitos - foram instaladas em pontos estratégicos do rio. Um deles já foi alvo de tiros.

O perigo também vem dos narcotraficantes, que cultivam coca do lado peruano, e enviam a droga rio abaixo rumo ao ponto de interseção fluvial nas três fronteiras entre Brasil, Peru e Colômbia.

No começo de abril, caçadores ilegais pegos em flagrante também ameaçaram de morte o cacique de uma comunidade kanamari vizinha, forçando-o a se refugiar na cidade.

Na avaliação dos indígenas, o governo federal permanece bem pouco presente no enfrentamento a esta criminalidade perigosa e onipresente. A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), encarregada da gestão destes territórios, amargou um período de quase abandono durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), defensor declarado da exploração da Amazônia.

- "Missão delicada" -

"Com Bolsonaro, depois a covid, as invasões explodiram", explica Varney Todah da Silva Kanamari, vice-presidente da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

"O Estado nos abandonou, tivemos que assumir nossas responsabilidades. Criamos grupos de vigilância nas comunidades. A ideia é proteger nossa terra e viver dos nossos recursos. Nós defendemos aquilo que nos pertence, nossos lagos e florestas", afirma.

Assim, os kanamari formaram, no médio Javari, seus "guerreiros da floresta", inspirados nos "guardiões da floresta de Guajajara", experiência similar dos indígenas Arariboia, que lutam contra traficantes no Maranhão.

No coração da imensa floresta, a tarefa é imensa e faltam recursos. Os eco-guerreiros de São Luís dispõem apenas de dois barcos a motor e com muita frequência têm pouco combustível disponível.

"Sua missão é muito delicada, pois a ameaça está muito perto, na verdade na margem oposta, do lado peruano do rio", explica Varney Todah. Enquanto isso, nas cidades, alguns moradores continuam a colaborar com os invasores.

No entanto, "os guerreiros tiveram resultados, seu método funciona", constata Bushe Matis, coordenador-geral da Unijava.

Eles se inserem em uma estratégia mais ampla, cujas fundações foram deixadas por Bruno Pereira, explica Matis à AFP, na sede de sua organização, localizada na cidade de Atalaia do Norte, porta de entrada para a reserva.

"Se esperarmos o Estado agir, vai demorar muito tempo", afirma. O trabalho dos Kanamary se articula, assim, em uma escala maior, com "a equipe de vigilância" da Univaja. Conhecida pelo acrônimo EVU, esta espécie de comando de organizações indígenas intervém "quando a situação fica mais tensa", explica Matis.

"Os 'guerreiros' fazem a sensibilização. A EVU coleta as provas das invasões e de seu roubo", acrescenta.

- "Ocupar o território" -

Bruno Pereira "montou a equipe" ao chegar à Univaja, após ser exonerado da Funai. "Nós somos seus herdeiros", orgulha-se Bushe Matis.

Na casa dos trinta anos e com aparência de playboy, filho do explorador e célebre indigenista Sydney Possuelo, Orlando de Moraes Possuelo é um dos líderes da EVU. "O objetivo é ocupar o território", diz ele à AFP, particularmente nas duas áreas limítrofes onde há abundância de peixes e animais, o Médio Javari e o rio Itaquaí.

Embarcações motorizadas, GPS, drones, telefones e internet via satélite... A EVU, agora mantida por doadores generosos, faz uso das novas tecnologias.

Além de seus três líderes, a organização conta com 27 membros, jovens procedentes de todas as comunidades do Javari, treinados "a fazer levantamentos, confiscar materiais, com tais protocolos de segurança...", enumera Cristobal Negredo Espisango, conhecido como Tatako, outro fundador do grupo.

"Nós chegamos o mais rapidamente possível para pegar os intrusos em flagrante, antes que desapareçam ou passem para o Peru", continua.

As missões são confidenciais e os membros do grupo trabalham sob anonimato. Muitos já foram ameaçados. "Eu estou ameaçado de morte. É claro que tenho medo, mas não há outras opções", admite Tatako.

Perto da sede da Univaja, fica a sede da EVU, em uma casa branca sem identificação em Atalaia do Norte, protegida por uma grade de ferro e uma câmera de segurança.

Zona tampão entre dois mundos, esta cidade portuária, bem como as localidades vizinhas de Benjamin Constant e Tabatinga, são conhecidas por serem base de traficantes e abrigarem comunidades de pescadores que costumam ser hostis aos indígenas.

Os métodos da EVU são evidentemente robustos, mas "nós não somos substitutos do Estado", insiste o presidente da Unijava.

"Nós fazemos o controle, coletamos as informações e as provas. E as transmitimos às autoridades competentes. Depois, que o Estado faça seu trabalho!", dispara, esperando que com a volta ao poder do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, favorável à causa indígena, "a Polícia Federal e a Funai queiram, enfim, realmente nos ajudar".

"Atualmente, a EVU é a única organização que combate realmente o crime organizado no Vale do Javari", assegura Tatako. "E ela está em vias de fazer as coisas se movimentarem".

R.Mehmood--DT